Calagem
Calagem é uma etapa do preparo do solo para cultivo agrícola na qual se aplica calcário com os objetivos de elevar os teores de cálcio e magnésio, neutralização do alumínio trivalente (elemento tóxico para as plantas) e corrigir o pH do solo, para um desenvolvimento satisfatório das culturas.
Agronomicamente a necessidade de calagem é calculada por 3 métodos distintos, tomados como base a análise de solo, são eles: método da Embrapa, método do IAC e método pH-SMP.
A acidez do solo é um problema comum a quase todas as regiões brasileiras, e a tendência, se não for corrigida, é ampliar-se sobretudo nas regiões de solos arenosos sujeitos a altas precipitações e cultivos intensivos.
Há no Brasil, aproximadamente 285 milhões de hectares de terras cultiváveis, dos quais 40 ou 50 milhões necessitam de correção de acidez.
EFEITOS DA CALAGEM
Práticamente, só os solos com pH abaixo de 5,5 e superior a 7,0 apresentam problemas relacionados com a disponibilidade de alguns nutrientes, com a toxidez de outros, com a estrutura do solo, com a vida microbiana e simplificação da matéria orgânica, fixação de nitrogênio e enxôfre, etc.
Os efeitos da calagem poderiam ser resumidos da seguinte maneira:
a)EFEITOS FÍSICOS
-Melhoria da estrutura pela granulação das partículas (estrutura, porosidade, permeabilidade, aeração).
b) EFEITOS QUÍMICOS
- Correção da acidez
-Aumento da disponibilidade e assimilação do Cálcio, Magnésio, Fósforo e Molibdênio
- Diminuição da solubilidade do Alumínio, Ferro e Manganês(esses elementos, além de dificultarem o aproveitamento de alguns nutrientes pela planta, ainda podem se tornar tóxicos).
c) EFEITOS BIOLÓGICOS
- Estímulo ao desenvolvimento da vida microbiana.
Calcário
Os calcários (do latim "calx -cis" , "cal") são rochas sedimentares que contêm minerais com quantidades acima de 30% de carbonato de cálcio (aragonita ou calcita). Quando o mineral predominante é a dolomita (CaMg{ CO3}2 ou CaCO3. MgCO3) a rocha calcária é denominada calcário dolomítico.
Impurezas
As principais impurezas que contém o calcário são as silica, argilas, fosfatos, carbonato de magnésio, gipso, glauconita, fluorita, óxidos de ferro e magnésio, sulfetos, siderita, dolomita e matéria orgânica entre outros.
A coloração do calcário passa do branco ao preto, podendo ser cinza claro ou cinza escuro. Muitos calcários apresentam tons de vermelho, amarelo, azul ou verde dependendo do tipo e quantidade de impurezas que apresentam.
Formação
Os calcários, na maioria das vezes, são formados pelo acúmulo de organismos inferiores ou precipitação de carbonato de cálcio na forma de bicarbonatos, principalmente em meio marinho. Também podem ser encontrados em rios, lagos e no subsolo (cavernas).
No caso do calcário quimiogénico, a formação é em meio marinho: a calcite (CaCO3), é um mineral que se pode formar a partir de sedimentos químicos, nomeadamente iões de Cálcio e Bicarbonato: Cálcio + Bicarbonato --> CaCO3 (calcite) + H2O (Água) + CO2 (dióxido de carbono). Isto acontece quando os meios marinhos sofrem perda de dióxido de carbono (devido a forte ondulação, ao aumento da temperatura ou à diminuição da pressão). Deste modo, para que os níveis de dióxido de carbono que se perdeu sejam repostos, a equação química começa a evoluir no sentido de formar CO2, o que leva também a formação de Calcite e assim à precipitação desta que, mais tarde, depois de uma deposição e de uma diagénese dá origem ao calcário.
Tipos de calcário
Não existe uma classificação rigorosa aceita para agrupar os tipos de calcários. Entretanto, de forma grosseira, pode-se dividi-los em seis grupos:
- Marga: Quando possui uma quantidade de argila entre 35 e 50%.
- Caliche: Calcário rico em carbonato de cálcio formado em ambientes semi-áridos.
- Tufo: Calcário esponjoso encontrado em águas de fonte devido à precipitação da carbonato de cálcio associado com matéria orgânica resultante da decomposição de vegetais.
- Conquífero: Formado pela acumulação de esqueletos e conchas.
- Giz: Calcário poroso de coloração branca formado pela precipitação de carbonato de cálcio com microorganismos.
- Travertino: São calcários densos encontrados em grutas e cavernas composta por calcite, aragonite e limonite
- Dolomita: Um mineral de Carbonato de cálcio e magnésio
- Recifal: é um calcário de edificação que resulta da fixação de carbonato de cálcio por seres vivos, nomeadamente os corais.
Usos
Os principais usos do calcário são:
- Produção de cimento Portland.
- Produção de cal (CaO).
- Correção do pH do solo para a agricultura.
- Produção de giz (matérial na forma de bastonete para escrever na lousa escolar}
- Fundente em metalurgia.
- Fabricação de vidro.
- Como pedra ornamental.
Regulagem
O sucesso do manejo da acidez dos solos não depende somente do conhecimento básico sobre a teoria da acidez e de características dos corretivos. A prática da calagem, que envolve o conjunto de operações ligadas à distribuição e incorporação do calcário, são igualmente importantes. De nada adianta a recomendação de calagem ter sido feita com a melhor base teórica possível se o corretivo for aplicado em dose incorreta, devido ao equipamento de aplicação ser impróprio ou estar mal regulado. Portanto, a uniformidade de aplicação, o grau de mistura das partículas de calcário com o solo e a profundidade de incorporação são fundamentais ao sucesso da calagem.
Como regra básica pode-se dizer que quanto mais os corretivos são misturados e incorporados profundamente ao solo, melhor. Com isso, a reação do calcário é mais rápida, pois os produtos da reação do correti vos são rapidamente consumidos pela acidez do solo e a correção de camadas do subsolo permite o enraizamento mais profundo das plantas, o que propicia melhor produtividade e estabilidade de produção das lavouras.
Entretanto, nos últimos anos, vem aumentando o interesse dos agricultores brasileiros por sistemas de manejo de solo mais conservacionistas como o preparo reduzido e, principalmente, o plantio direto. Esses sistemas propiciam o menor revolvimento possível do solo e, assim, afetam tão diretamente a prática da calagem ao ponto de o calcário ser aplicado à superfície do solo, sem incorporação, no caso do sistema de plantio direto.
Distribuição do calcário
A distribuição do corretivo de acidez deve ser a mais uniforme possível, em qualquer sistema de manejo do solo. É fácil observar quando se distribui o calcário de maneira desuniforme, em solos mais ácidos, pela irregularidade no crescimento das plantas. Nos solos com menor grau de acidez, há efeito negativo na produtividade, porém de percepção mais difícil.
A distribuição uniforme do calcário depende da qualidade e regulagem dos equipamentos de aplicação. É necessário que o equipamento esteja corretamente dimensionado ao tamanho da propriedade e também que o agricultor conheça suas limitações para minimizar a heterogeneidade de aplicação. Existem diferentes modelos de distribuidores de calcário no mercado brasileiro, cujos detalhes poderão ser obtidos nos textos de Mialhe (1986) e Dallmeyer (1986).
Aspecto importante é o operador dominar bem o mecanismo dosador, e a técnica de conferência de regulagem do equipamento, para poder ajustar a dose recomendada para cada lote de compra de calcário. Isso é neces sário porque os produtos têm densidade de partículas distintas e a variação no teor de umidade é muito grande. Tudo isso interfere na dose aplicada. É importante também, conhecer a faixa de distribuição ou o perfil transversal do equipamento. Ele descreve a quantidade de calcário que o equipamento distribui, em função da distância do eixo da máquina, no sentido transversal ao deslocamento do trator. Com exceção ao equipamento do tipo cocho, que utiliza a força da gravidade para distribuir o calcário, em linhas na extensão da largura da máquina, os demais distribuidores têm dispositivos para lançarem as partículas de calcário mais distantes, conseguindo-se faixas mais largas e, assim, maior rendimento de aplicação.
Com isso, há maior concentração de partículas próximas do eixo do distribuidor em comparação com as extremidades da faixa de aplicação. Portanto, torna-se necessária a sobreposição de faixas de aplicação para se conseguir melhor uniformidade. Os catálogos dos equipamentos geralmente prometem faixas muito largas de aplicação, com até 14 m , das quais resultam em grande desuniformidade de doses aplicadas. É fundamental que o agricultor não ultrapasse 8 m de faixa de aplicação para assim conseguir melhor uniformidade.
Cuidado adicional deve ser tomado com aplicadores do tipo rotativo que di spõem de apenas um rotor de distribuição. Eles têm perfil transversal assimétrico que aumenta ainda mais a desuniforme de distribuição das partículas.
Aplicação localizada de calcário
Houve interesse no passado de alguns agricultores brasileiros, principalmente aqueles arrendatários de terra, no sentido de reduzir os custos com a calagem, mediante a aplicação de pequenas doses de calcário, finamente moído, no sulco de plantio. Algumas máquinas de plantio chegaram a ser produzidas com três reservatórios. Na mesma época, trabalhos de pesquisa foram realizados e mostraram que tal prática era pouco eficiente, sobretudo em solos com acidez elevada (Ben et al., 1981).
Observando-se os dados do quadro nota-se que houve resposta à calagem na linha de plantio apenas em áreas que não receberam calcário a lanço. Além disso, nessa condição, a média de produtividade se manteve baixa no período de quatro anos. Não existe também efeito adicional para a aplicação de calcário em linha em solos que receberam calagem em doses adequadas, na área total (Ben et al., 1983).
Outro trabalho com objetivos semelhantes foi desenvolvido por Nakayama et al. (1984) em solo de cerrado do Estado do Mato Grosso do Sul, cujos resultados foram reinterpretados e mostrados no quadro 5.2. À primeira vista, os aumentos de produção de soja para a aplicação de calcário no sulco de plantio são vantajosos, pois chegam a quase 3.000 kg .ha (hectare elevado a -1) de soja, num período de quatro colheitas. Entretanto, a análise econômica mostra que os ganhos são pequenos, principalmente nos dois primeiros anos, os quais mais interessam aos arrendatários de terra, dado o período geralmente curto do arrendamento. Nos demais anos, as doses de calcário acumulam-se no solo e como o sulco de plantio muda de posição todo ano, resultam em uma calagem em área total, porém com menor relação custo/beneficio. Além disso, a calagem na linha torna a operação de plantio mais complexa e com rendimento muito menor devido à necessidade de reabastecimento freqüente das máquinas.
Outra forma de localização de calcário também ocorre nas culturas perenes, em que a aplicação dos fertilizantes é feita em faixas laterais próximas 'as plantas, provocando maior acidificação do solo. Quando isso ocorre, os agricultores poderão fazer a calagem também de forma localizada de modo a reduzir a heterogeneidade do solo e economizar com calcário. Para tanto, alguns equipamentos possuem dispositivos próprios para essa aplicação. Na prática tem-se observado que é possível reduzir até 30%, por área, a dose de calcário.
Precedendo a implantação do sistema plantio direto em solos manejados convencionalmente ou sob campo natural, recomenda-se corrigir a acidez do solo da camada arável (0-20 cm ), mediante incorporação de calcário. A dose a ser usada é função de vários critérios.
No caso de solos de campo nativo, a eficiência da calagem superficial depende muito da acidez potencial do solo (maior em solos argilosos), da disponibilidade de nutrientes, em especial de P e de K, do tempo transcorrido entre a calagem e a semeadura e da quantidade de precipitação pluvial. Por essa razão, sugere-se que o calcário seja aplicado 6 meses antes da semeadura.
Calagem em solo sob preparo convencional
Nos sistemas de preparo convencional (aração e gradagem) ou de preparo mínimo (escarificação e gradagem), o calcário deve ser incorporado uniformemente ao solo, até a profundidade de 20 cm .
Quando a quantidade de calcário indicada é aplicada integralmente, o efeito residual da calagem perdura por cerca de cinco anos, dependendo de fatores como manejo do solo, quantidade e fonte de N aplicada nas diversas culturas, erosão e outros. Após esse período, indica-se a realização de nova análise de solo para quantificar a dose de calcário. Na hipótese de serem aplicadas quantidades parceladas, o total não deve ultrapassar o indicado para 5 anos.
Cálculo da quantidade de calcário
As quantidades de calcário indicadas na Tabela 2 referem-se a corretivos cujo índice de pureza (PRNT, Poder Relativo de Neutralização Total) seja 100%. Isso significa que as quantidades totais a aplicar devem ser calculadas em função do PRNT. Sugere-se que seja dada preferência a calcário dolomítico, por ser mais barato, bem como por conter cálcio e magnésio.
Índice SMP | pHágua desejado | Índice SMP | pHágua desejado | ||
5,5 | 6,0 | 5,5 | 6,0 | ||
----------- t/ha ---------- | --------- t/ha------- | ||||
≤4,4 | 15,0 | 21,0 | 5,8 | 2,3 | 4,2 |
4,5 | 12,5 | 17,3 | 5,9 | 2,0 | 3,7 |
4,6 | 10,9 | 15,1 | 6,0 | 1,6 | 3,2 |
4,7 | 9,6 | 13,3 | 6,1 | 1,3 | 2,7 |
4,8 | 8,5 | 11,9 | 6,2 | 1,0 | 2,2 |
4,9 | 7,7 | 10,7 | 6,3 | 0,8 | 1,8 |
5,0 | 6,6 | 9,9 | 6,4 | 0,6 | 1,4 |
5,1 | 6,0 | 9,1 | 6,5 | 0,4 | 1,1 |
5,2 | 5,3 | 8,3 | 6,6 | 0,2 | 0,8 |
5,3 | 4,8 | 7,5 | 6,7 | 0,0 | 0,5 |
5,4 | 4,2 | 6,8 | 6,8 | 0,0 | 0,3 |
5,5 | 3,7 | 6,1 | 6,9 | 0,0 | 0,2 |
5,6 | 3,2 | 5,4 | 7,0 | 0,0 | 0,0 |
5,7 | 2,8 | 4,8 | - | - | - |
Fonte: Comissão de Pesquisa EMBRAPA (2007). |
Em alguns solos, principalmente nos de textura arenosa, o índice SMP pode indicar quantidades reduzidas de calcário, embora o pH em água esteja em nível inferior ao preconizado. Nesses casos, pode-se calcular a necessidade de calagem a partir dos teores de matéria orgânica (MO) e de alumínio trocável (Al) do solo empregando-se as seguintes equações para o solo atingir o pH em água desejado:
para pH 5,5, NC = -0,653 + 0,480 MO + 1,937 Al,
para pH 6,0, NC = -0,516 + 0,805 MO + 2,435 Al onde, NC é expresso em t/ha, MO em % e Al em cmolc/dm3.
É importante considerar que o método SMP não detecta o calcário existente no solo que ainda não reagiu. Em geral, são necessários três anos para que ocorra a dissolução completa do calcário. Observando-se esses aspectos, evita-se a supercalagem.
Água
A acidez do solo tem origem na água das chuvas, que também causam o intemperismo do solo, a erosão e a lixiviação de cátions básicos. Os fertilizantes, principalmente os nitrogenados, também podem ser fonte de acidez do solo.
Bibliografia
-www.anda.org.br/boletins/Boletim_01
-www.unioeste.br/projetos/unisol/projeto/c_agricola/p_acidez_e_calagem.htm
-www.dcc.ufla.br/infocomp/artigos/v3.2/art08.
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